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Memórias de um Halloween cheio de números

16 Bits da Depressão

31/10/2019 18h00

O Halloween me traz memórias tão distantes que mal posso me lembrar de quando aconteceram, mas sei que foi há bastante tempo, já que eu mal sabia contar. Eu não sabia pronunciar números com valores acima de dez. Sabia que o que era um e dez, só que do 11 pra frente era difícil.

Também, como criança, até que você tenha alguma finalidade prática para aplicar determinado conhecimento, você simplesmente não se interessa em aprender.

Pra que eu precisaria saber pronunciar oito mil quinhentos e setenta e quatro? Pra nada!

Até que comecei a jogar Atari.
Lembro-me de que havia dois jogos em especial de que eu gostava muito: "Pitfall" e "Halloween", este segundo não tão conhecido como o primeiro.

Trata-se, basicamente, de um jogo cujo objetivo é levar um garotinho para uma sala segura enquanto tenta evitar que um serial killer ceife suas vidas.


Ao final do jogo, como na maioria dos jogos de Atari, você alcançava determinada pontuação. Eram números tão grandes para mim, eu ficava feliz por ter feito tantos e tantos pontos. Eu queria poder contar para as pessoas, só que infelizmente eu não sabia pronunciá-los… E eu sabia que era errado dizer "eu fiz seis, cinco, dois, cinco pontos".


A minha mãe foi a primeira a quem recorri; afinal, o incentivo de jogar videogames partiu dela. Para uma mãe coruja, o filho em casa jogando era melhor do que brincar no parquinho com lâminas de barbear no escorregador (alguém ai se lembra dessas lendas e casos?).
O trajeto era em correria do quarto até a cozinha:
– Mãe, como que fala seis… Pera aí.
(Corria da cozinha para o quarto e do quarto de volta pra cozinha.)
– Cinco, dois… Pera de novo.
(Corria lá e voltava).
– Cinco!
– Seis mil quinhentos e vinte e cinco pontos. Puxa, quantos pontos!
E eu, claro, ficava super orgulhoso.
Isso se repetia diversas vezes durante diversos dias, já que meus pais dificilmente impunham horários de jogatina. E logo, conforme a paciência e o orgulho da minha mãe se esgotavam gradativamente, fui percebendo que estava na hora de aprender, e aprendi.
Graças ao incentivo dos meus pais e ao videogame, consegui aprender algo que uso até hoje!

Consegui, inclusive, contar parte dessa história e agradecer pessoalmente ao David Crane (criador do jogo Pitfall) e ao Nolan Bushnell (criador do Atari) durante a BGS 2018.


O sorriso deles ao ouvir a história me fez tão orgulhoso quanto fazer os seis mil quinhentos e vinte e cinco pontos no "Halloween".

Sei que as pontuações em jogos de vídeo games não importam muito hoje em dia e são praticamente obsoletas.

Para mim, elas sempre foram motivos de orgulho.

Obrigado mãe (dona Marilene), e a todos que contribuíram de alguma forma com o meu desenvolvimento enquanto jogava videogames.

Sobre o Blog

Diversão, alegria e jogos eletrônicos! Ou decepção, sofrimento e um pouco mais de jogos eletrônicos? O 16 Bits da Depressão vai abordar os assuntos que estão em alta no universo gamer, sempre com muito bom humor e poucos pixels.