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De Mega Man até Heavy Rain: as chuvas mais simbólicas dos games

16 Bits da Depressão

13/02/2020 04h00

Ah, a chuva. Muito mais que um fenômeno meteorológico, ela se faz presente no imaginário lírico de grandes autores, banhando narrativas com os mais variados significados que passeiam pela melancolia e pela renovação. No premiado filme coreano Parasita, a chuva vai um pouco além, explorando diferentes perspectivas sociais sobre o impacto desse fenômeno no dia-a-dia.

Trazendo para nosso cotidiano, mais uma vez a chuva traz à tona notórios problemas de negligência administrativa e falta de consciência coletiva. Em meio ao desastre de pessoas que perderam seus bens materiais e até seus entes queridos em diversas cidades brasileiras, é comum encontrar pessoas que conseguem rir da leptospirose e manter a brasa do churrasco acesa mesmo com água nos joelhos. Isso em meio a jovens que disputam mergulho da beira da ponte, posam como sereias urbanas e ostentam um fusca de dar inveja a qualquer submarino.

Longe de mim romantizar a desgraça para apresentar uma antítese à obra de Bong Joon-Ho. Isto é apenas uma introdução para uma lista de games para nós, que temos o privilégio de ter alguma opção de entretenimento em alternativa a surfar na ausência do saneamento básico.

Então prepare o guarda-chuva porque iremos passear por algumas chuvas clássicas na história dos games, começando pela segunda geração. Até porque o mais próximo de chuva que temos em qualquer jogo da primeira geração é a chuva de meteoros do jogo Asteroids, e sobre isso não há sombrinha que dê jeito.

1- Bobby is Going Home (Atari 2600/1983)

A primeira chuva de que tenho recordação nos games é a que contemplamos na tela final das áreas de Bobby is Going Home. Ok, é um pouco difícil se assegurar de que essas partículas seriam gotículas de chuva e não flocos de neve, mas na ausência de neve no telhado da casa, vamos nos dar o benefício da dúvida.

Em qualquer dos casos, é muito interessante o contexto em que ela é inserida logo nos primórdios da história dos videogames, reforçando a função de abrigo daquela casa. Aqui, a recompensa por sobreviver a animais mortíferos, pedras rolantes e buracos no caminho é conseguir chegar ao conforto de seu lar e curtir uma melodia bem agradável.

2 – Continental Circus (Arcade/1987)

Fãs de Top Gear que me desculpem, mas esta pérola da Taito está algumas voltas à frente em levar a chuva para as pistas de corrida, e não somente por razões estéticas. A mecânica do jogo se altera com efeito adicional de derrapagem, e o controle nas curvas fica consideravelmente mais difícil.

Um efeito tão bacana para a época, que até resolveram replicar em um rudimentar port feito para o microcomputador ZX Spectrum.

3 – Mega Man 4 (NES/1991)

Vamos ser sinceros, o charme da chuva 8-bit de Mega Man não podia faltar nesta lista. Aqui temos um dos grandes clássicos dos jogos de plataforma que incorpora um efeito de chuva bem caprichado, com direito a gotículas de impacto no chão e respingos de poça quando você corre por ela. Como se não fosse suficiente, há ainda um robozinho que cai do céu utilizando um guarda-chuvas como para-quedas, simplesmente uma graça.

4 – Streets of Rage (1991/Mega Drive)

Chegamos na era 16 bits, o assunto que é a nossa praia. E a chuva, nesse caso, é justamente na praia. Para você, que também é pobre e testemunha de que sempre chove quando vamos ao litoral, Streets of Rage é o nosso jogo. Inclusive, é um tipo de praia que muitos de nós (infelizmente) já vimos por aí, com latas espalhadas no chão, pneus jogados e a criminalidade rolando solta. Talvez o principal diferencial é a eficiência da polícia quando você pressiona o botão "A". Ah, e claro, uma trilha sonora inesquecível.

5 – The Legend of Zelda: A Link to The Past (1991/Super Nintendo)

Antes que eu me entregue como Seguista, um título da Nintendo que saía no mesmo ano e abraçava com tudo a simbologia da chuva era Zeldinha. Você é recebido por um baita temporal logo na primeira vez em que bota os pés no vasto e hostil mundo de Hyrule, com direito a relâmpagos, trovões e um efeito sonoro que dá uma baita vontade de ir ao banheiro.

6 – The King of Fighters 94 (1994/Arcade)

De novo uma chuva sul-coreana entrando em tópico: nada como a água caindo em meio à pancadaria de The King of Fighters. Aqui o efeito sonoro da tempestade chega até introduzir a trilha musical.

7 – Donkey Kong Country (1994/Super Nintendo)

A enxurrada na era 16 bits é tanta, que a lista de jogos alagados poderia se estender para sempre. Um último título dos cartuchos que me sinto na obrigação de citar aqui é Donkey Kong Country. A atmosfera de selva não seria completa se a chuva não entrasse como coadjuvante em alguma circunstância. Afinal, ela é parte do ciclo de toda aquela vida que se encontra por ali.

 8 – Castlevania: Symphony of The Night (1997/Playstation)

Além de algumas chuvas ocasionais que ocorrem em áreas específicas do jogo, é curioso destacar que o Richter Belmont consegue utilizar forças sobrenaturais para fazer chover água benta. Isso mesmo, um golpe de efeito em área onde pingos abençoados caem do céu.

9 – Shenmue (1999/Dreamcast)

A chuva em Shenmue é, literalmente, um evento da trama. Alguns personagens vão conversar sobre a chuva, interagir com ela e até utilizar o guarda-chuva. Destaco aqui uma linda melodia do jogo, que não por acaso se chama "Rain".

Outro fato interessante sobre o realismo da chuva de Shenmue é a existência de um sistema que replica os dados meteorológicos da cidade de Yokosuka em 1986, então se sua jogatina foi bastante molhada ou acompanhada de muita neve, saiba que aquele clima era o mesmo daquela região naquele dia.

10 – Devil May Cry 3 (2005/Playstation 2)

Seria inconcebível imaginar a batalha introdutória do game entre Dante e Virgil sem a chuva. Muito mais do que um componente atmosférico, as partículas de água fazem parte da batalha em si, sendo cortada e projetada pelos golpes de espada que percorrem pelo ar. No ápice da batalha, momento onde os dois dividem forças com espadas cruzadas, uma redoma de d'água desaba sobre eles no clímax da cena.

11 – Gears of War (2006/Xbox 360)


Em termos de qualidade gráfica, a chuva de Gears of Wars é um dos principais exemplos de como a Unreal Engine pode ser explorada para obter um realismo sem precedentes.

Lembro de jogar o ato 3 em Full HD na época e ficar de queixo caído com aquela experiência.

12 – Heavy Rain (2010/Playstation 3)

Imagine um jogo tão molhado a ponto de a chuva fazer parte do título. Em Heavy Rain a chuva é praticamente um personagem, e tem relação com um trauma que envolve crianças, dramas familiares e um serial killer conhecido como o assassino do origami.

Uma trama interativa muito interessante pra quem tem paciência de passar por diversos "quick time events" e consegue lidar com a frustração do resultado de suas decisões.

13 – The Witcher 3 (2015/Multi)

O sistema climático de The Witcher é uma maravilha que merecia estar nessa lista mesmo que só houvesse um pingo de chuva durante todo jogo. Muito pelo contrário, vários jogadores relatam chuvas excessivas durante a jogatina e até buscam recursos para desativá-la. Meu palpite é que as nuvens carregadas não passam de bruxaria da Yennefer só pra ver seu crush Geraldão em trajes molhados.

14 – Death Stranding (2019/Playstation 4)

A série Metal Gear deixa bem claro o apreço que Hideo Kojima tem pelas chuvas em suas narrativas, e Death Stranding não fica longe disso. É um jogo que ainda não joguei, mas já fico com medo de encarar a tal "Timefall", ou Chuva Temporal: ela acelera a passagem do tempo sobre tudo o que toca, e por isso acaba com as vegetações e também destrói aos poucos as cargas que você carrega.

15 – Ouranos (1980/Commodore PET)

Pra quebrar com a cronologia da lista e encerrá-la de forma que nenhum retrogamer bote defeito, trago este curioso game lançado na transição entre a primeira e a segunda gerações. O título não leva o nome de Urano, deus grego dos céus, à toa. Nele, você e seu amigo brincam de ser deuses utilizando forças da natureza para poder destruir a residência um do outro.

Entre trovões e furacões, a chuva também aparece como recurso destrutivo, possivelmente pela primeira vez na história dos jogos eletrônicos.

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Aproveitando o espaço e a sua atenção, quero salientar o impacto destrutivo das chuvas em nossa sociedade para fazer um apelo: doe roupas e alimentos para pessoas desabrigadas. Certamente há instituições sérias com locais de coleta em sua cidade, então contribua como puder.

Sobre o Blog

Diversão, alegria e jogos eletrônicos! Ou decepção, sofrimento e um pouco mais de jogos eletrônicos? O 16 Bits da Depressão vai abordar os assuntos que estão em alta no universo gamer, sempre com muito bom humor e poucos pixels.