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Um presentão de Natal retrô: como seria o game de Akira no Mega Drive?

16 Bits da Depressão

29/12/2019 04h00

Esta semana tivemos um grande presente de Natal que quase passou despercebido por amantes de animes e retro games: foi o resgate do, até então perdido, protótipo de Akira para o Mega Drive.

Akira é um mangá que figura como um clássico cyberpunk e conta com uma adaptação cinematográfica animada que é referência em diversas obras de ficção-científica. Para quem já conhecia, ainda pode ser uma grande surpresa saber que o console de 16 bits da SEGA quase chegou a receber um título baseado na obra escrita por Katsuhiro Otomo.

Fonte: Hidden Palace (Reprodução)

Graças à doação de um fã chamado Matsuda e um doador anônimo, entusiastas do fórum especializado em resgate de jogos antigos Hidden Palace foram capazes de efetuar um extenso trabalho de arqueologia de dados para poder reparar os componentes eletrônicos danificados pelo tempo de modo a tornar possível o processo de "ripagem" do jogo.

Até então, tudo o que conhecíamos do projeto eram algumas imagens que foram veiculadas em revistas especializadas da época, além desta pitoresca gravação de uma apresentação do protótipo durante uma feira de consumidores realizada em 1994.

Diretores do estúdio que subsidiava o desenvolvimento da adaptação do anime para os consoles estavam desinteressados e resolveram abortar o projeto para direcionar esforços aos "ports" de plataformas da série Strike (Desert Strike, Urban Strike e Jungle Strike).

O jogo, então, permaneceu como um dos grandes mistérios da indústria após ser cancelado, isso porque nenhum dos responsáveis pelo seu desenvolvimento inicial conseguiu manter uma cópia jogável.

Vinte e cinco anos mais tarde, entusiastas conseguiram recuperar 2/3 dos dados de forma acessível na ROM e disponibilizá-la para teste aqui. Então é importante ter em mente que estamos falando de um material incompleto, repleto de falhas, e que serve apenas para nos dar um panorama de como o jogo poderia ter sido.

Abaixo podemos conferir um pouco do que foi resgatado, e algumas coisas chamam bastante atenção. Destaco a seguir.

O primeiro ponto é uma introdução que não faz jus ao restante do game. Notamos uma pixel art caprichada nos detalhes. Ali vemos apenas um "downscale" da artwork do anime, tanto do protagonista quanto do cenário, acompanhada por uma trilha musical incompleta em que, aparentemente, faltam alguns canais sonoros (vide comparação do material exibido na feira de 1994 e o material recuperado).

Após a tela de menu começamos a ver a ambição dos desenvolvedores envolvidos no projeto. Uma breve cutscene (também incompleta) nos leva a um cenário futurístico com exuberantes quatro camadas de paralaxe em que o jogador controla o personagem em uma moto, bem ao estilo Road Rash, com possibilidade de desferir socos nas laterais.

Algumas cutscenes depois, o jogo nos leva a um modo de navegação em 1ª pessoa que nos lembra bastante de Doom. Nesse momento, você precisa utilizar seu poder para detonar alguns inimigos e (supostamente) encontrar a saída.

Mais uma pequena dose de cutscenes, e aí observamos que a mecânica do jogo se altera novamente, desta vez transformando-se em uma espécie de side-scroller com elementos de exploração e sistema de combate que alterna entre contato corpo-a-corpo e projéteis de sua arma. E não acaba por aí. Novamente, a jogabilidade se altera por completo em uma fase em que você controla um veículo aéreo de aspecto tridimensional em um cenário que utiliza vetores para simular profundidade. Um grandioso feito de programação que ficaria perdido no tempo se não fosse pelo meticuloso trabalho de recuperação.

E se você pensa que isso é tudo que o protótipo oferecia, está muito enganado. Dentro dos modestos 2MB, ainda fizeram caber uma fase com estilo de câmera isométrica e mecânicas de shooter. Um trabalho ambicioso para ser um dos jogos mais dinâmicos da era 16 bits.

Antes de o jogo "crashar" por completo, conseguimos contemplar uma nova mecânica que se parece bastante com jogos beat-em-up. Infelizmente, só é possível jogar até essa parte.

Como grande parte do projeto ficou por tanto tempo no limbo, fica complicado especular as circunstâncias que levaram a seu cancelamento. Um dos meus palpites gira em torno de a equipe de desenvolvimento querer dar um passo maior que as pernas. Como você pode notar, o jogo tinha uma complexa variedade de mecânicas, e elas não funcionam muito bem. É evidente que se trata apenas de um protótipo em versão Alfa, mas imagino que ele deveria ser no mínimo funcional para justificar a verba necessária para aperfeiçoá-la.

Seja quais forem os motivos do cancelamento, tenho outro palpite, que defendo com maior convicção: AKira teria sido um dos jogos mais incríveis da biblioteca do Mega Drive por tudo que ele nos prometeu. E, finalmente, agora podemos ter um pequeno gostinho de como seria.

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